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A importância do atendimento terapêutico a sobreviventes de catástrofes naturais

Especialista no tratamento de traumas, Dr Julio Peres, enfatiza a importância do atendimento psicológico de pessoas que perderam entes queridos e o sentido de segurança perante a vida, para evitar que sintomas pós-trauma se tornem crônicos

Catástrofes meteorológicas são responsáveis por desastres ambientais que ocorrem todos os anos no Brasil. Altos índices pluviométricos em curto período de tempo podem causar acidentes gerando expressivo número de mortes e de sobreviventes seriamente afetados por traumas psicológicos (Caraguatatuba, SP, março de 1967, com 200 mortos; Petrópolis, RJ, fevereiro de 1971, com 171 mortos, e fevereiro de 1998 e dezembro de 2001, com cerca de 70 mortos cada, Angra dos Reis, RJ, janeiro de 2010 com 52 mortos, entre outros).

Segundo o Dr. Julio Peres, a associação de fatores críticos como a perda de vínculo(s) familiar(es), de entes queridos, do sentido de segurança, da moradia, da educação continuada e o efeito surpresa, aumentam a vulnerabilidade para surgimento do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). “Após dois meses da ocorrência algumas pessoas sucumbem à vitimização, ao isolamento; outras procuram ajuda, amigos, literatura; outras desenvolvem transtornos de ansiedade, como pânico, TEPT; outras, depressão; e outras superam os traumas. Estudos sobre o terremoto na cidade do México em 1985, o Tsunami asiático em 2004 e o furacão Katrina em 2005 mostraram que aproximadamente 30% dos adultos, 36% das crianças e 51% dos adolescentes sobreviventes manifestaram o TEPT”.

A primeira linha terapêutica indicada aos indivíduos com TEPT é a psicoterapia. Geralmente a utilização de serviços de saúde mental é tardia devido às necessidades urgentes de sobrevivência. “Paradoxalmente, quanto mais tempo o indivíduo traumatizado demorar para receber auxílio psicológico especializado, maior o risco dos sintomas se tornarem crônicos, de surgirem outros transtornos e complicações como o abuso de substâncias, predominantes entre os adolescentes e adultos que não recebem tratamento” – analisa Dr. Julio Peres. Os efeitos depreciativos da saúde mental podem ser ainda mais severos em comunidades de países em desenvolvimento pela falta de acesso a ajuda especializada. A identificação precoce de pessoas com alto risco de desenvolver transtornos psiquiátricos em decorrência ao trauma é um importante passo inicial para profilaxia do trauma psicológico e engajamento no processo de superação.

Outro fator importante relacionado à superação mais rápida dos traumas é a solidariedade. Ela foi identificada como um importante fator de resiliência –capacidade de atravessar eventos dolorosos e voltar a qualidade de vida satisfatória – dos sobreviventes de catástrofes naturais. O processo de reciprocidade que gera benefícios tanto para quem recebe ajuda quanto para quem a oferece, possibilita melhora da qualidade de vida e fortalecimento positivo da relação interpessoal nas comunidades afetadas por desastres.

Altos índices pluviométricos são previstos para os próximos 2 meses e por conseqüência, desastres ambientais que desafiam a capacidade adaptativa do indivíduo e acarretam em resultados adversos da saúde mental, incluindo psicopatologias graves pós-traumáticas, são esperados.

Ações governamentais preventivas no âmbito da saúde mental como workshops informativos para líderes de comunidades de risco podem evitar comportamentos de manada, pânico generalizado, maior incidência de mortes e sobreviventes com TEPT na eventual ocorrência de um desastre natural – ressalta Dr. Julio Peres.

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